Jejum
Tem cabimento nos nossos dias? O que Jesus diz acerca do Jejum?
1 – SIGNIFICADO
JEJUAR significa abster-se totalmente ou parcialmente de alimentos por um período de tempo com um propósito específico. Tem sido praticado por muitos em todas as épocas, em muitos países, culturas e religiões. Pode ter finalidade espiritual e mesmo medicinal.
2 – O QUE A BÍBLIA DIZ
A Bíblia não ordena a prática do jejum, mas refere-o várias vezes como uma prática usada pelo povo de Deus.
2.1 – No Velho Testamento, os judeus tinham um dia de jejum instituído: o do Dia da Expiação (Lv. 16.31 e 23.27), que também ficou conhecido como “o dia do jejum” (Jr. 36.6) e ao qual Paulo se referiu como “o jejum” (At. 27.9). Mas em toda a Bíblia não há uma única ordem acerca do jejum.
Apesar de o povo judeu jejuar, muitas vezes o Senhor não apreciava a prática: “Por que jejuamos nós, e não atentas para isto? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta? – Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e para rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto” (Is. 58:3-4).
2.2 – Jesus refere-se ao jejum para condenar a forma prática de como alguns o realizavam: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt. 6.16-18). Jesus não ensina a prática do jejum. Ele constata que alguns praticavam o jejum para impressionar outros, quando o motivo principal deveria ser o de exprimirem a sua condição de miseráveis perante Deus, o Pai.
2.3 – Era costume dos fariseus jejuarem dois dias por semana (Lc. 18.12), mas Jesus e os seus discípulos não o faziam. Um dia perguntaram a Jesus: “Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os fariseus frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão” (Lc. 5.33-35).
2.4 – As epístolas do Novo Testamento não referem o jejum.
3 – OBJETIVO DE ALGUNS JEJUNS
Pode-se considerar que determinadas práticas no Velho Testamento envolviam o jejum parcial (abstinência de determinados alimentos) ou o jejum (abstinência de qualquer elemento).
3.1 – A lei do nazireado – voto de consagração ao Senhor – envolvia não comer e beber certos alimentos e bebidas (Nm. 6.3,4).
3.2 – Devido a certos pecados, Samuel e o povo jejuaram em Mispa (1Sm. 7.6; Ne. 9.11), com o objetivo de declararem o seu arrependimento.
3.3 – Davi e o povo jejuaram um tempo depois da morte de Saul, Jonatas e Abner. O país estava de luto e Davi sentia a falta dos amigos Jonatas e Abner (2Sm. 1.12; 3.35).
3.4 – O rei Josafá pediu um jejum porque temia ser vencido pelos moabitas e amonitas (2Cr. 20.3).
3.5 – Esdras proclamou um jejum junto ao rio Ava para orar por proteção e bênção de Deus sobre a sua viagem (Ed. 8.21-23).
3.6 – Ester pediu um jejum para proteção no seu encontro com o rei (Est. 4.16).
3.7 – Daniel tinha o hábito de contristar-se perante Deus pelo seu povo com jejum, oração e humilhação com sacos de cinza (Dn. 9.3).
Normalmente, o jejum estava associado a 3 motivos:
- Tristeza (Jz 20:26; 1Sm 31:13; 2Sm 1:12; 1Rs 21:27; Est 4:3; Sl 35:13; Dn 6:18);
- Confissão dos pecados (2Sm 12; 1Sm 7:6; Jon 3:5; Ne 9:1);
- Busca do Senhor (2 Cr 20:3; Esd 8:21-23; Est 4:16; Joel 1:14; 2:15; Ne 1:4; Dan 9:3).
4 – CURIOSIDADES
A Bíblia narra alguns jejuns cujo espaço temporal foi variado, como:
- 1 dia – O Dia da Expiação (Jer. 36.6).
- 3 dias – O pedido de Ester (Est. 4.16).
- 3 dias – Paulo após a conversão (At. 9.9).
- 7 dias – O povo de Israel pela morte de Saul (1Sm. 31.13).
- 14 dias – Paulo e os que com ele estavam no navio (At. 27.33).
- 21 dias – Daniel em favor de Jerusalém (Dn. 10.3).
- 40 dias – Jesus no deserto, para ser tentado (Lc. 4.1,2).
- 40 dias – Moisés (Ex. 34.28) e Elias (2Re. 19.8) jejuaram quarenta dias, tal como Jesus, mas em circunstâncias especiais. Moisés foi envolvido pela glória divina. Elias caminhou 40 dias na força do alimento que o anjo lhe trouxe.
5 – CONCLUSÃO
Nos dias de Jesus, os fariseus tinham transformado o jejum em um ritual e um espetáculo. Jesus viu isso e reclamou. O jejum não é um ritual mecânico, para ser praticado simplesmente com o propósito de cumprir com a prática de jejuar. Mas quando a tristeza, a culpa ou a necessidade por uma comunicação mais íntima com o Senhor pede isso, então o jejum pode ser praticado. Não é uma ordem expressa por Deus, mas o crente em Jesus pode sentir a necessidade de ir aos pés do Senhor, em humildade e grande consternação por motivos diversos: de tristeza, arrependimento, consagração…
Os cristãos no princípio da Igreja jejuavam ocasionalmente, quando as circunstâncias segundo eles entendiam eram especiais.
Vejamos os exemplos em:
5.1 – Atos 13:2-3, a igreja jejuou quando enviou dois dos seus professores numa longa viagem de pregação.
5.2 – Atos 14:23, as igrejas jejuaram quando indicaram os anciãos.
Jejuar pode ser um meio de nos aproximarmos do Senhor, orando e meditando no Seu Amor, Poder, Perfeição e Perdão, sem interrupção para tomar qualquer refeição. Mas o jejum é, normalmente, acompanhado de aflição, confissão de pecado e de desprendimento total da vida cotidiana.
Samuel Pereira